sábado, 10 de junho de 2017

fim dos tempos verbais (o anti-escrito)

falta altemar na jugular das bestas;
na língua das serpentes;
nos corpos que balançam içados,
suspensos pelas cordas vocais.

falta manoel no vão da carne dos dedos,
dos ossos indicadores e polegares,
na mão que chama o lápis à dança.

sobram falsos profetas da língua,
de lábia cheirando a lavanda barata,
entupindo ouvidos com letras vazias,
afundando aos poros com versos rasos
oração tornada de bálsamo em praga.

é chegado o final dos tempos da palavra.

senhores, meus parvos senhores,
o anti-escrito reina!

ffábiogondim

(Texto extraído do possível livro "O Desperdício da Palavra" de Fábio Gondim)

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