domingo, 22 de fevereiro de 2015

.i,

farol das letras. seu ponto de luz quando verte e o norte mostra às outras, é quando acordos são feitos e quando seus pingos são postos

Fábio Gondim
"O farol" de Nanda Corrêa

sábado, 21 de fevereiro de 2015

.01:58 h

eram dois pras duas. aquelas horas; naquelas alturas, era como as duas tinham a si. os dois, cegos no fetiche diário, pra perceber não tinham senso, que em seu casamento a quatro, viviam as duas às claras, um caso secreto assistido

Fábio Gondim


"Château Mouton Rotshchild I" de Juarez Machado 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

.não era de levar talheres,

preferia com as mãos comer.

seu assassino faminto, 
indeciso porém,
enquanto com uma mão torcia-lhe o pescoço
com a outra fatiava-lhe as vísceras

Fábio Gondim
"Canibalismo de outuno" de Dalí

sábado, 7 de fevereiro de 2015

adoro quando desferes versos de nocaute

e laceras meus conceitos,
pondo-me alma em carne viva.


quando me falas à queima-roupa
com tuas vozes me comendo os tímpanos
e enches meu ventre de vida,
e me pões a parir em segundos.


.

crias famintas rebentam aos borbotões
que quanto mais me dou a luz,

mais luz quero adentro em pencas
varando o largo de minhas ancas.

como se teu parto em mil partes me partisse
e cada meu pedaço estilhaçado aos ares
fosse teu, antes de meu seres.

Fábio Gondim


"Parto" de Roberto Bérgamo




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

assim se faz comum,

que palavras que muito falam
são as que ao vento se soltam
e que aquelas que só ouvem
são as mesmas que se mudam.

a medida entre o cálice e o fálice
está no dom de inventar o caminho da palavra.
palavra não precisa de ponto a lhe parar,
mas de dois a lhe parir.

porque quando dois ou mais pontos
ali estiverem reunidos,
a palavra se fará.

Fábio Gondim


"Censure killed the meaning of artde Luís Quiles

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

tenho uma única pergunta

que soa estúpida no tique
e linda quase ao mesmo tempo

no taque que segue:

contas os segundos em pares
pra apressares o dia em que seremos?


Fábio Gondim

"A persistência da memória" de Salvador Dalí

o ser que todo é,

que confeita sonhos
e fermenta andanças.
que ouve vozes
e rearranja palavras ditas
em frases nunca escritas.
que malabarisa cores
e trapezista seres
nunca soltos aos ares.
que faz voar folhas que não andam
e sonhar pássaros que não voam.

dorme dentro em mim,
acorda dentro em vós
a voz em nota alta
dos pássaros trapezistas sem asa.


Fábio Gondim

"Concerti Vivaldi" de Michael Parkes