segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Gente feliz

Acho bonito de se ver e até tento simpatizar, 
mas é certo que não gosto mesmo de gente feliz, 
são irritantemente invejáveis. 
Sabem quais sapos beijar enquanto eu, mal sei quais engolir.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"


"Archess" de Lucy Yu

Tico-tico, a desilusão

Tico-tico tinha T.O.C.
Voltou pra verificar o gás.
Passarinha tinha outro.
Passarinho sufocou-se no fubá.

(Fábio Gondim)

Da série "Universo passional de passarinho"

"Tico-tico" de Quadrisanti

Tiros de letras

A palavra que atiro pra todo lado quase nunca é confiável.
E nesse tiroteio de poesias mal-amadas, 
Não desejo que sejas alvo de uma palavra perdida. 
Apenas saboreia e se for o caso, 
Cuspa-as de lado.

(Fábio Gondim)


"The assumption of words" de Chester Arnold

A presença

As esperanças ainda as colho e se não parece, é fingimento.
Enquanto as coisas boas não vêm, eu invento. Ando falando sozinho fingindo que já as tenho, mas as guardo no fim. 
Meu sorriso pra você e pro nada ainda gargalha, mas em silêncio, guardado também.
A distância entre meu coração e o seu nunca houve. As vezes que não me via é que me escondia, atrás do seu.

(Fábio Gondim)

Arte: "Thinker" de Esao Andrews

O remédio


Ando me pegando a escrever poemas de amor depois dos quarenta, e da meia-noite. 
Ando desconfiado que o amor não seja algo de fora pra dentro e que ando favorecendo a cilada desde os quinze. 
Receio estar escrevendo sobre isso aos oitenta e que isso será meu alento. 
Velho e ainda sem noção sobre o remédio e o veneno.
Na dúvida, uma média dos dois.

(Fábio Gondim)


"Time flies" de Duy Huynh

Andorinha, o fora

__ Anda Andorinha coloca-te a meu lado,
Uma andorinha só não faz verão.
__ Andorinho, presta atenção: o verão é longo,
quero fazer calor com quanto andorinhos andar.

(Fábio Gondim)

Da série "Universo passional de passarinho"

"Andorinhas" de Suzanna Schlemm

O pecado da palavra

Volta e meia me encontro em blasfêmia.
Meia-volta e me dou à heresia.
Deus sabe que não é ao léu, mas pro bem da poesia.
Preciso de uma cortesia para o Céu.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Into the Unknown" de Julian Callos

Quero-quero, a quimera

__Quero-quero-te!
__Quero-querer-me é pura quimera. De minha parte, maltequero-quero!
Passarinha bateu asas.
Passarinho bateu palmas.

(Fábio Gondim)

Da série "Universo passional de passarinho"

"Quero-quero" de Di Magalhães

Bem-te-vi, a rejeição

Bem-te-vi, bem-te-quis.
Bem-me-viste, malmequiseste.
Passarinho caiu de amor.
Passarinha nem piou. 

(Fábio Gondim)

Da série "Universo passional de passarinho"

"Bem-te-vi" de Vanessa Arendt

Culto ao bem-te-vi

Se bem-nos-vejo, ao homem foram dadas asas atrofiadas.
O propósito se revela no nascimento de Eva, quando o pedaço de costela apartado gerou má-formação dos membros alados.
De qualquer modo há males que nos salvam. Asas seriam um desastre pro homem, que desde então nunca teve o equilíbrio entre pés no chão e cabeça nas nuvens. 
Borboletas devem achar curioso esses desconjuntados seres de asa enroscada.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"



"Farfalla donne nude" de Autor desconhecido

.
entre nós,
tudo atado.


uma maçaroca de corações.
um entremeio de nossos fins.
uma saideira que sempre fica.

o jeito é beber, até cair em si


lassos.fábio gondim

do poeseiro "desperdício da palavra
"

"Valentine’s day" de Philippe Constantinesco

Acordes!

Violas, minhas violas!
Por que tocam quem as violam?
Violões, meu violões!
Por que afinam seus vilões?
Violinos, meus meninos!
Deem algum orgulho a seus pais.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"O violonista verde" de Marc Chagall

Raquel

Raquel não é dada a portas trancadas,
Nem da casa, nem da alma.
Abriga sob seu teto uns poucos,
E tudo.
Um eduardo que a torna completa.
Um bento que a torna uma santa.

(Fábio Gondim)



"Lullaby" de David Carmack Lewis

Revelação

Fotografias são pra fazer rir e fazer chorar, depende de qual altura da vida as mire. 
Fotografias são um mirante, onde sentados abrimos sempre com entusiasmo a paisagem. É quando lembramos por que o álbum por tanto tempo esteve esquecido.
Fotografias são o retrato do que pretendíamos ser e do que fossem.
Fotografia é uma invenção estúpida. 

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Lá longe" de Fabiano Millani

Asas cortadas

Quando criança buscava sem sucesso, 
dando voltas em torno de mim, 
a capa que me levasse pro alto, 
pra que salvasse a tudo e a todos.
Quando jovem buscava desesperado 
o botão que acionasse minhas asas embutidas, 
que me levassem para longe de tudo e de todos.
Quando velho buscava lembrar 
em qual momento da vida perdi o gosto por sobrevoos, 
me submetendo a tudo e a todos.

Hoje olho pro céu certo de que nunca serei pássaro.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Nunca olvides I" de Víctor Gómez

O vício do ciclo

Eis o ciclo do amor para os casais:
No começo não é amor, é labareda; fogo tomando de assalto; sopro na nuca; gelo na boca.
Depois vem o amor e o sexo que consumia o casal, pelo amor é consumido.
O fim do sexo é o começo do casamento, mas esse é um segredo que só as mulheres detém.
Muitos homens desconhecendo a Ordem preferem arder-se, tornando o ciclo.
Algumas mulheres ignoram o segredo, criando um ciclo dentro do ciclo.

Dedicado ao homem, que não sabe o que é o amor; dedicado à mulher, que finge não saber.
Homens e mulheres não são diferentes, querem o amor como companheiro e o sexo como amante.
Eis a essência do amor para os casais.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Ensaio acerca do desamor"

"Promise" de Lauri Blank

.

quero um amor que me absorva naqueles dias

e cheire em meu sangue intenso
nosso filho que vem.

que me acorde com preguiças
e me beije com os olhos
e note em meus olhos sujos 
seu lar em meu coração.
que me abrace sem amarras
e me lance às paredes
e sinta em minhas mãos vazias
todo meu ouro entregue.
que me queira para sempre, 
que me deixe quando queira
e me faça crer que o amor

seja pouso numa cela aberta
fábio gondim


"Inspiration de Li Pei Huang

Poema da perdida

Não vou dizer que o problema é comigo porque não é.
Nem que merece pessoa melhor porque não merece.
Que encontrará alguém que te dê valor porque não tem.
Vou dizer é que preciso encontrar meu verdadeiro eu...
Oi? De quem falávamos? Do quê?
Ah! Dizia eu perdida que somos incompatíveis,
Você é O negativo, eu Apositiva.
Não! Por favor não chora!
Saco!
Assoa esse nariz!
Inferno!
Puta que pariu!

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Kristallnacht" de Thorsten Dittrich

Insatisfação

Quando vem aquela chuva inoportuna matando a sede da terra, reclamamos. Esquecendo que antes, naquele maldito estio, mal podíamos respirar.
Quando vem o maldito estio matando tudo que há na terra, reclamamos. Esquecendo que antes, aquela inoportuna chuva não nos deixava ir ao cinema.
Quando o Sol é intenso reclamamos que estraga a maquiagem. Quando o céu é nublado não podemos ir à piscina.
Quando não há sombra, gastaremos muito com protetor.
Quando há árvores demais, galhos estragarão nossos carros.
Se o vento é intenso, perderemos tempo limpando o chão. Se não há vento perderemos tempo matando pernilongos.
Se a terra vira pó, haja detergente e se vira lama, haja paciência. 

Se o fogo acaba lá se foi o jantar, mas se ele insiste corremos pra apagar.
O horário de verão rouba-nos horas de sono e o de inverno, horas de diversão.
Os quatro elementos convivem em perfeita harmonia, o quinto é dos infernos.

(Fábio Gondim)

"Sweet sweet music" de Jared Meuser

domingo, 26 de outubro de 2014

A fuligem dos canalhas

Bolhas de sabão. Somos bolhas de sabão.
Nascemos de um sopro e planamos arco-íris agregando outras à nossa pele.
Umas nos amam, outras parasitam.
O clímax se dá quando rompemos o enclaustro recebendo toda a sujeira do mundo, que a fina seda de detergente impedia.
Considerando que no princípio éramos "limpos", cabe-nos dali por diante evitar a mácula disseminada pela fuligem dos canalhas.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"


"To free butterflies II" de Laycass

A trilha de migalhas

      Aprisionar nossos objetos em armários resguardando-os da utilidade alheia é não lançar migalhas ao chão permitindo que nossos amigos encontrem o caminho de nosso coração. 
     Com o objeto cedido vai um pedaço nosso que faltava no quebra-cabeça da alma dos que nos tornam completos. 

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Song of the nightingale" de Ingo Leth

Comida de estranhos

     Guardados os trocados no bolso menos acessível, fingimos não ter o que dar à mão que se estende por comida.
     Estando sempre alheios à fome alheia, sabemos da nossa quando dói o oco. E incapazes de medir a vontade do outro, sábio é seguir o conselho materno não aceitando comida daqueles quais desconhecemos a medida da vontade. 
     A iguaria mais exótica por certo é nossa carne nos vãos dos dentes de uma boca faminta, portanto nunca aceite comida de estranhos para que não vire comida de estranhos.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"The Red Violin" Lauri Blank

Conto de fadas

     Pais, filhos e contos de fadas são uma estória à parte. Onde estava com a cabeça minha mãe me contando sobre lobos devorando senhoras, baleias engolindo garotos, jacarés amputando piratas, bruxas envenenando donzelas e outras engordando crianças pra as comerem ensopadas?

     Mas filhos adoram contos de fadas, pais também adoravam. Estou eu aqui a contar estórias pro meu filho e o enfado da repetição faz-me delirar enquanto recito a decoreba.

     Então desejo entre outras coisas o sono eterno pra Branca de Neve, garota mais mal vestida. Branca de neve não se veste, se embala. Sim, porque aquele vestido é uma embalagem. Além do mais, a morta de fome não deve ter prestado atenção na estória da Serpente e da Eva, outra sonsa faminta.

     E Cinderela, o topo da lista das mais mal vestidas. Aquela peça é pra Halloween. Aproveitando o tema, a carruagem tinha mais é que virar abóbora e Cida ganhar a vida na diária.

     Que pensar de Rapunzel, a piolhenta que nunca viu tesoura? Pra ela imagino quimioterapia e se fosse esperta pagaria o tratamento vendendo aquela tereza.

     Chapeuzinho, outra que não muda de roupa (só tem aquela muda?). Garota esquizofrênica... Falando com flores. Imagino o Lobo lambendo os beiços após ter feito em pedaços a otária, a viciada em glicose da Vovozinha e todo e qualquer caçador palhaço que se atreva a mudar a estória. E no dia seguinte o Lobo refeito e bem alimentado derrubando as casas dos porcos. No café o Cícero assado, no almoço costelinhas de Heitor e no jantar feijoada de Prático.

     E Pinóquio, aquele 171. Sempre aprontando, cara de pau!...

     De volta de meus devaneios; olho meu filho, olhos arregalados ansiosos pela oitava sessão de estórias de todos seus personagens favoritos. Desisto. Receio ter que recorrer a canções de ninar. Talvez a Cuca e o Bicho-papão tenham mais sucesso.

(Fábio Gondim)

"Twisted princess Cinderella" de Jeffrey Thomas

Vendaval

Já que insiste em soprar palha, pau e tijolo,
Que sabes que meu teto é de vidro e minhas paredes são moucas,
Que minha vida um livro aberto e minha boca fechada a moscas.
Arregaça essa bagaça, ferra o ferro e o fogo. 
Mas ferra logo.
Entorna o caldo grosso que verte de meu sexo, fatia meu plexo.
E então entra! Entra e repousa em meu útero. 
Usa-o quanto quiseres como abrigo.
Regozija-te, farta-te de todo alimento que de mim possas sugar.
Até que a boca estoure e dê-se o parto, livrando-me de toda a droga que trouxeste para o meu bojo.
E quando findo o parto, parta! Para que meu ventre recolha quem de fato queira renascer.

(Fábio Gondim)

"Get out" de Oscar Delmar

Bobo da corte

Ocupava-me com a paz de meu castelo.
Contorcia-me a pensar nos beijos de meu príncipe.
Mas te preocupavas apenas com tua coroa; 
a cruz que carregaste; 
a lança que vazou teu peito antes de seres coroado meu senhor.
E quando dei por mim havias roubado meu reino, 
nomeando-me bobo de minha corte.
De fato, de bobo nada tens.
Decerto, meu chapéu de bufão me cai bem.

(Fábio Gondim)

"Dreaming of Chopin" de Mayumi Haryoto

Teresinha maluca

O primeiro quando veio, foi como tiro certeiro
Atravessando o meu samba, me deixou de perna bamba.
Mas não me dava nada. 
Minto, dava porrada.
O primeiro quando veio, foi assim como facada
Rasgando minha blusa, me deixou quase confusa.
Mas não me dava nada. 

Minto, dava pancada.
O primeiro quando veio, foi como atropelamento
Não dava amor nem sustento.
Não dava nada. 

Minto, dava dentada.
Se eu gostava? Gostava não.
Mas prefiro um na mão
Do que dois na previsão de mais fome e agressão.
Não tarda passarada,
Qualquer dia dou pedrada!
Sou Teresinha maluca,
Doida de pedra, maluca de paixão!

(Fábio Gondim)


"Sailor’s delight" de Jeff Simpson

Descambo

Quando me deixou descambei, desparafusei, enrosquei,
Chorei no coletivo!
Lágrimas de lama, lágrimas de lava,
Bebi no coletivo!
Tomei cicuta, tomei Sukita, fumei bituca,
Fumei no coletivo!
Fumei o que cheira, cheirei o que bebe, 
Bebi o que aplica, bebi de novo.
Fumei os brônquios, fiquei em silêncio...
Gritei no coletivo!
Sem medo nem motivo.
“Sem lenço”, sem senso nem incenso,
Morri no coletivo!
De morte lenta, de morte santa,
De erros meus, subi aos céus,
Desci no coletivo!
Passei dos limites, passei da linha,
Da linha de passe, passei do ponto,
Do ponto de fogo, quebrei a guia,
Desci do coletivo!

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Ensaio acerca do desamor"


"Ônibus não!" de Cláudio Dickon

Incondicional

Amava quando me amavas
Amava quando me traías
Amava quando de mim falavas
Amava.
Quando me deixavas à espera e não chegavas
Quando chegavas esperando que dormia
Quando dormias enquanto acordava
Quando acordavas fingindo que nada.
Que nada acontecia
Que nunca me farias ferida
Que nunca me farias querida
Que nunca me apartaria.
Tens minha vida nas mãos
Tens minhas mãos aos teus pés
Tens os meus pés pelas mãos
Tens meu amor ao viés.
Eu sei, de mim nada tenho
Eu sei de mim quase nada
Eu sei de mim e o avental
E de meu amor, incondicional.

(Fábio Gondim)

"Green with envy" de Kelly Reemtsen

365

É natural que eu tenha me deixado quando você chegou
E natural que eu tenha lhe deixado na minha chegada.
Descobri nesses tantos anos que estava errada a quantia.
Para mim olhava muito pouco
Nas suas vinte quatro horas, três vezes em demasia.
O motivo por que tão pouco me via?
Pra você olhava o tempo inteiro,
Nas trezentas e sessenta e cinco horas do meu dia.

(Fábio Gondim)


"Pool Series 18" de Klara Petra Szabo

A paixão em cinco atos

Do alto e longe vinha a chuva, a brisa invadia o centro do quarto, o ventilador empurrava de volta.
Colado ao outro os corpos se viam, atento o espelho tirava o retrato, lá fora ansiosa a brisa esperava.
Enquanto aguardavam a chuva que vinha, do ventre aos pés a água escorria, depois do trovão luz já não tinha.
O ventilador perdia a força, os corpos quebrados não colavam mais, a brisa no embuste fazia ameaça.
O espaço vazio esperava por outros, a terra sedenta bebia a água, a brisa gelada o quarto invadia.

(Fábio Gondim)



"Sweet morning" de Artyom Chebokha

Batimentos

Meu coração é outro de mim, engolido a seco, atravessado na garganta, parado no estômago.
Invasor atrevido de batidas descompensadas.
Meu coração tem pegada, me pega no laço e bate doído, bate doido, bate colocado. 
Ensaio um fim de caso e ele me batendo. 
Digo que nunca mais dessa água e ele me batendo. 
Volto arrependido e ele me batendo. 
Nada que eu faça o faz parado. 
Meu coração não sabe parar de me bater.

(Fábio Gondim)


"I Can Hear You…?" de Sonya Fu

Experimento

Não pergunto a ninguém o que é certo, pergunto a mim.
Também não preciso experimentar pra saber do que se trata.
Quando nasci já era velho conhecedor dos caminhos do mundo.
Persistindo a dúvida, ainda terei meu instinto.
Se ainda permito que alguém ou algo me diga o que fazer é por que além de razão e índole, tenho um coração com alma de passarinho.

(Fábio Gondim)

"Maurice dans le petit matin" de Paul Huet

Do que eu gosto

Gosto de minha cabeça nas nuvens, mas gosto também que meus olhos vejam o que meu coração não sente.
Gosto de meu nariz onde não é chamado, mas gosto também de minha boca fechada.
Gosto de meu mundo na Lua, mas também de meus pés no chão.
Gosto de meus braços abertos praqueles que gosto e meus ouvidos fechados praqueles que desgosto.
Gosto do meu cheiro, do gosto, voz, meu toque, meu rosto.
Gosto dos que gostam de mim, estes tem bom gosto.
Gosto dos que não gostam de mim, estes tem razão.

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Summers gone I" de Branimir Jaredic

Amigos à parte

Hoje enviei sinais de fumaça, pedidos de amizade, como sou covarde. Compartilhar é verbo intransitável pra mim.
Meus amigos sempre me deram mais do que eu merecia, de minha parte nenhuma quantia.
Sempre os abandono nalgum trecho do caminho, quero uma vida sozinho. Ter amigos exige cuidados e nunca tive essas vocações.
Nunca me tornei responsável, me cansam os cuidados. Cuidam-me, me cativam, mas nunca fui dado a cativeiros.
Não tenho esse dom da retribuição, certamente morrerei sozinho. Que bem feito, que perfeito!

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Desperdício da palavra"

"Valletta Twilight 8" de Micko-vic

Desmedido

Desconfio que tenho errado contigo, te dado demais.
Prometo-te a Lua e consigo um amor minguante.
Ofereço-te o Sol e te ponho carbonizado.
Tentando reparar meu amor desastrado, oferto-te todas as estrelas do céu e faço com que sejas pisoteado pela constelação de Touro.
Resta-me a ti desejar todas as flores do mundo e pra mim a eternidade, pra aprender a medir meu desejo. 

(Fábio Gondim)

Do poeseiro "Ensaio acerca do desamor"

"Sunday" de Lee Price