terça-feira, 31 de maio de 2016

13.31 de março

as pessoas de bens
tomam hoje as avenidas,
pra garantir 
que os moradores de rua
ali permaneçam

fábiogondim

9 de março

vão-se
os buquês de rosas,

voltam
as coroas de flores.

fábiogondim

sábado, 21 de maio de 2016

no terreiro

queros querem
bens se veem
ticos ticam
beijos florem
pombas rolam
pombas giram

fábiogondim

panis et circenses

aranhas tecem teias.

na ânsia por comida,
fazem arte.

fábiogondim

denúncia vazia

arco-íris
furta-cor

fábio gondim

vagante

a lua estava lá,
as estrelas estavam.

estavam vaga-lumes,
não estava você.
eu era noite
e era vago.

fábiogondim

o diálogo dos monólogos

falamos sozinho juntos.

creditamos ouvidos às paredes,
então a elas falamos.
assumimos a natureza de portas
então a nós não falamos.

palavras desencontradas
arrastando-se pela casa,
um casal de monólogos.
a que ponto chegamos?
(não responde).


fábio gondim

escala

a poesia vem assim,

no final
do dia
se empoleira
num pedaço
de mim.

e quer voar.


fábiogondim

síndrome de barros

esse poeta de minha cidade,
o seu manoel:

criou tanto pombo no céu das letras,
que difícil é desviar

duma palavra cagada.

fábiogondim

prato frio

queres saber agora onde estou,
bandido?

perguntes às paredes.
minha resposta
será teu eco.


fábiogondim

forca

meus ponteiros ora parados,
no fundo só aguardam
outro carrasco a me dar corda.
dançar é o meu forte.

nasci para o sapateado no ar,
é minha arte.


fábiogondim

tecido

para cada tez
que sobre a dele deitava,
uma lasca da sua perdia.

de quem ia,
tomava pra si uma tira de pele 
a enxertar-se na chaga aberta,
torta costura de carne.

o último,
só mais um remendo andarilho.
ele, 
ponto a ponto,
colcha de retalho.

fábiogondim

coma

devoto,
comungou madrugada adentro.
hóstias tarja preta
e vinho vagabundo.

voltou a si no terceiro dia.

fábiogondim

em obras

no sexto dia: pronto o esboço.

a partir do sétimo sol,
sem descanso,
para o homem o começo
de seu acabamento.

fábiogondim

barranco

é de você que me atiro.

mas seja bala ou penhasco,
nalma não me firo
nem me arrebento aos pedaços.

fábio gondim

docinho

dou-me tua farta sobremesa.

sentado à mesa inerte,
no revés me enlouqueces
com o teu diabetes.

docinho